CARTA ABERTA ao presidente do Tribunal de Justiça do RN, Cláudio Santos

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Caro senhor Cláudio Santos,

Sua fala em defesa da PRIVATIZAÇÃO de uma UNIVERSIDADE PÚBLICA que presta relevantes serviços ao desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Norte como a #UERN só me pode fazer crer que se trata, primeiramente de um preconceito de classe, pois a UERN forma filhos e filhas da classe trabalhadora do RN. Mas não é qualquer classe trabalhadora, é notadamente, àquela que vive no interior do Estado, no seu sertão, no semi-árido do alto Oeste, do Seridó, do vale do Assu, que não mora em Natal nem desfruta das benesses do capital na via costeira ou na zona sul de Natal. E é aí que se inscreve a segunda dimensão do preconceito: o geográfico.

Muitos de nós professores/as e alunos/as da UERN somos filhos e filhas de operários/as e trabalhadores/as do campo, uma parcela da população em função da qual a grande mídia desse país e deste estado não sai em defesa. E quando o senhor, na condição de presidente do Tribunal de Justiça do RN, em entrevista, aponta a privatização da UERN como uma forma de reestruturar as finanças do Estado, fica claro que fala a partir do seu lugar social, colocando-se como representante de uma visão elitista da educação, a partir da qual estuda quem pode pagar e o custo de um curso de graduação não se resume ao valor de uma mensalidade.

Certamente que o senhor pode pagar esse custo para seus filhos ou filhas, mas infelizmente meus alunos e alunas não tiveram a sorte de nascerem filhos/as de juízes desembargadores. E diferentemente do senhor que tem salário bruto acima de 40 mil reais por mês, a imensa maioria da população de nosso Estado é pobre, e negar-lhe a UERN é reforçar o abismo da desigualdade social no RN. Como professora, o convido a conhecer nossos/as alunos/as e suas histórias de vida. Venha a Assu, onde sou professora, vamos conversar com as pessoas, vá a Patu, Pau dos Ferros, Caicó, converse com a população da Zona Norte de Natal, pois é, a zona norte também faz parte da cidade e do Estado.


O Brasil e o Rio Grande do Norte precisam avançar na defesa e promoção da educação pública, gratuita e de qualidade, e nenhum cidadão ou cidadã bem intencionado pode defender o fechamento de instituições de ensino. Precisamos defender, trabalhar e lutar pela ampliação da quantidade e da qualidade destas instituições.


Por último, gostaria de lembrar-lhe, caro desembargador, existe um mundo e um Rio Grande do Norte para além das paredes luxuosas e cheias de obra de arte dos tribunais, existe um RN que viaja de pau de arara, pega carona, come poeira, mas não deixa de ir para aula na UERN, é por esta parcela grandessíssima da população do Estado que sugiro que o senhor possa reavaliar seu ponto de vista e retratar-se com a população do Rio Grande do Norte. É por ela também que sigo minha luta cotidiana pela UERN e pelo direito de meus alunos e alunas terem uma formação de qualidade com desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, mesmo sem tantos auxílios no meu salário entrego minha vida à minha profissão, pois julgo que através dela estarei semeando um mundo novo.
Paz e bem.


Andreza de Oliveira Andrade
Professora do Departamento de História do Campus Avançado Prefeito Walter de Sá Leitão – Assu

 

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