A base da ADUERN apresentou, durante o 43º Congresso do ANDES, o Texto de Resolução (TR) intitulado “Plano de lutas pela dignidade de cuidar e trabalhar”, que versa sobre as demandas de docentes com deficiência, famílias atípicas, responsáveis pelo cuidado e mães/pais solo. O material é fruto das vivências e experiências de docentes que compõem famílias atípicas e/ou atuam como cuidadores de parentes próximos, e a temática foi levada com protagonismo pelos delegados e delegadas da ADUERN.
O TR foi motivo para intensas discussões nos grupos mistos e, após intervenção da professora Ana Luiza B.C. Saraiva (FAFIC), que é uma pessoa com deficiência e mãe de uma criança atípica, foi levada ara votação na plenária do congresso, onde foi aprovada por unanimidade dos presentes no evento.
“O TR 33 nasce da necessidade urgente de garantir dignidade para docentes que são cuidadores(as), fazem parte de famílias atípicas ou são mães/pais solo. Esse tema, até hoje, foi tratado de forma insuficiente pelas universidades, pelo ANDES e pelos sindicatos, mas, com resistência e resiliência, conseguimos construir a proposta que agora está em apreciação. Uma em cada seis crianças no mundo é autista. No Brasil, as famílias têm menos filhos, mas a população está envelhecendo e, com a reforma da Previdência, seremos trabalhadores(as) idosos(as) cuidando de nossos pais idosos e de filhos. O impacto disso na saúde mental dos cuidadores é evidente: os índices de suicídio entre famílias atípicas são alarmantes”, comentou Ana Luiza.
O tema causou comoção nos grupos de debate, uma vez que a situação de docentes com deficiência, famílias atípicas, responsáveis pelo cuidado e mães/pais solo nunca foi tratada com tanta profundidade em um espaço nacional de deliberação da categoria.
Confira na íntegra o que falou Ana Luiza durante a discussão no grupo misto.
Luta pautada pela ADUERN foi acolhida por demais delegações
A pauta apresentada pela ADUERN comoveu e foi acolhida por professores e professoras de diversas seções sindicais em todo o Brasil, que se identificaram com as reivindicações presentes no TR e reafirmaram sentir uma lacuna nas discussões sindicais, no que se refere à luta de famílias de crianças atípicas e cuidadoras. A invisibilidade da pauta foi colocada em várias falas durante a plenária final.
A professora Aldirene Cordeiro, docente da Federal do Amazonas (UFAM) foi umas das principais apoiadoras do TR redigido pela base da ADUERN. Para ela, a aprovação do texto foi uma surpresa
“No momento em que eu vi o TR fiquei muito emocionada, mas imaginei que ela não seria aprovada. Apesar de termos avançado em várias questões fundamentais dentro da nossa categoria, existem pautas que ainda não temos total sensibilidade para apreciar. O embate foi grande para garantir essa aprovação, pois vários colegas queriam a supressão total desse TR. Foi um momento histórico ver os quadros do sindicato nacional debatendo com qualidade a vida e as particularidades das pessoas, de mães, pais, filhos e filhas que até então estavam fora das discussões da entidade”, destacou Aldirene.
A professora Camila Alves Gusmão, que é vice-presidenta da Associação de docentes da Universidade Estadual de Santa Cruz – Bahia (Adusc) também participou da votação que aprovou a TR e lembrou que cada vez mais os docentes vivem na chamada “geração sanduíche”, que cuida simultaneamente de filhos(as) pequenos(as) e de pais/mães idosos(as).
“Acho que o TR33 foi muito importante para todos que participam deste congresso. Essa resolução trata da vida de docentes que são cuidadores, seja de pais, mães ou filhos, e que precisam dedicar mais tempo a essas tarefas, afetando sua rotina de trabalho, sua produção acadêmica. Essa é uma discussão invisibilizada, muitas vezes porque esses docentes não tem nem tempo e muito menos condições objetivas para participar dos espaços políticos da categoria, estão sobrecarregados na dupla jornada de profissionais e cuidadores” avaliou.