ARTIGO: E a luta de classes, onde fica?

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Telma Gurgel* 

Profª Doutora do Departamento de Serviço Social 

As duas manifestações dos últimos dias, 13 e 15, já conseguiram impulsionar uma transformação no cotidiano quando a conjuntura nacional se tornou tema de debate em cada esquina desse imenso país. Assim, escutamos diversas avaliações, muitas vezes, passionais, apaixonados e, principalmente, polarizadas. Nesse cenário concordamos com o Chico Alencar, nem 13 nem 15.

No entanto queremos fazer outras indicações nessa dialética.

1-Não podemos reduzir a análise do fenômeno como continuidade das eleições de 2014. Tal posicionamento, no mínimo, desconsidera o efeito perverso das últimas ações/medidas do governo Dilma, na vida da classe trabalhadora.

2- Não devemos negar que a opção de governabilidade do PT de aliança com a burguesia e a cooptação de quadros e partidos, por inteiro, era extremamente perigosa, em particular, em momentos de crise estrutural do capital que exige, cada vez mais, ações de resistência e radicalidade.

3- É preciso reafirmar, como já se verificou em outras épocas, que a burguesia nacional, detentora dos meios de produção material e ideológico, não defenderia com substancialidade um governo originário da luta da classe trabalhadora.  Mesmo que este se encontre em processo de transformismo, no sentido atribuído por Gramsci, como o vivenciado pelo PT. Infelizmente. Pois como já se diz, na boa tradição judaico-cristã: “não se pode atender a dois senhores, acendendo uma vela para Deus e outra para o Diabo”.

4- Para além das diferenças ontológicas as referidas manifestações têm de início duas semelhanças: ambas não divulgaram demandas de rupturas com a ordem societária vigente e nenhuma defendeu o fim dos privilégios garantidos aos membros da administração direta do Estado. Nem emplacaram uma crítica ao aumento de salários e benefícios promovidos pelo governo de diversos Estados, entre eles o RN, aos (as) deputados(as), secretários(as)e desembargadores(as). Bem como, no âmbito do Congresso Nacional.

5-Ainda em nível das semelhanças afirmamos que os atos foram visivelmente organizados, por sujeitos coletivos, estruturados nacionalmente e com uma forte dimensão de institucionalidade: partidos, ONGs, sindicatos, centrais, federações, confederações, etc… A uniformidade das cores, vermelho dia 13 e verde/amarelo dia 15, e o limite das demandas, demonstraram o nível de ideologização dos atos, bem como, o seu caráter de engessamento, enquadramento e ossificação.

6- Comparados com as jornadas de junho, em 2013, quando víamos  uma massa descontente, rebelde, renitente, criativa, ousada. Que expressava a preocupação da cidade, centro, periferia, urbano, rural, jovens, idosos, mulheres entre outros, com a questão social. Eram inúmeras demandas, oriundas das necessidades cotidianas e culturais: saúde, habitação, emprego, fim da corrupção, liberdade sexual, educação, respeito e dignidade para o povo, etc… Mesmo que em alguns momentos demonstrassem uma resistência aos partidos, o que explicita certo infantilismo político, essa experiência se apresentou muito mais autêntica em comparação a estas que analisamos nesse fragmento.

7- Queremos destacar, ainda outra semelhança. Como já nos frisou Chico Alencar a ausência da defesa da imediata substituição dos nomes denunciados nas investigações, de seus cargos no Congresso. Ao contrário, partidários (as) de ambas, são citados(as) e apoiaram as declarações de defesa, de seus semelhantes, em plenário, da Câmara Federal. Evidenciando, assim, a cultura do” toma lá, dá cá” que caracteriza a República no Brasil.

8- Por fim quero concordar com aquelas pessoas que dizem: a corrupção não começou com o PT. Elas têm razão.  Numa analogia a relação entre o patriarcado e o capitalismo em que o segundo se apropriou do primeiro, para a sua manutenção. Igualmente, o PT se apropriou da corrupção como peça chave em sua governabilidade. Acreditando talvez que na hora da delação, a fidelidade seria preservada. Logo o PT, que fez história com a denúncia da “maracutaia” na política.

Nestas circunstâncias, é necessária a retomada das ruas pelas forças sociais autônomas e com a capacidade política de dirigir o descontentamento para além da conciliação da reforma política. Precisamos exigir uma saída que evidencie os projetos de classes, que esclareça o pêndulo das desigualdades e que fortaleça a dignidade da nação e do povo brasileiro.

 

1-Pelo fim dos privilégios;

2-A corrupção como crime hediondo;

3-10% do PIB para a Educação

4-Auditoria da dívida pública

5-Saúde universal com qualidade

6-Pelo Fim da DRU ( Desvinculação de Receitas da União)

*Os trabalhos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

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