Por José Ronaldo – UERN
Alguns deputados estaduais do RN, felizmente uma minoria, não fazem a menor ideia do que é uma universidade, o que ela faz ou o que representa para um estado. Para se convencer dessa triste realidade, basta ouvir o que falam sobre a UERN. Vejamos alguns relatos e prestemos alguns esclarecimentos.
- O governo estadual deve financiar a UERN.
Um deputado disse em entrevista que o governo do RN não deveria financiar a UERN porque não é obrigado a fazê-lo. Na verdade o governo tem essa obrigação. Ele assumiu essa responsabilidade quando a UERN foi estadualizada há 30 anos e isso é um fato concreto. E nesse particular, ele é só mais um porque não tendo nada de excepcional nisso.
Somente o estado do Paraná tem sete universidades estaduais e região Nordeste tem 15 universidades estaduais. Dessas, quatro estão na Bahia e três estão no Ceará. Os estados de Alagoas e do Maranhão tem, cada um, duas universidade estaduais. Existem inclusive vários municípios que financiam universidades, como por exemplos, Rio Verde, cidade do interior de Goiás (UNIRV) e Linhares, cidade do interior do Espírito Santo (FACELI).
- Qual é o investimento do estado na UERN?
O mesmo deputado aparece em um vídeo nas redes sociais dizendo que a UERN custa R$ 33 milhões/mês ao contribuinte, ou seja, quase R$ 400 milhões/ano. Como não acreditamos que o deputado se arriscaria deliberadamente à vergonha pública, vamos trabalhar com a hipótese de que sua assessoria seja medíocre, ou no mínimo muito preguiçosa.
No ano passado o estado investiu pouco mais de R$ 263 milhões na UERN. E isso é muito para manter uma universidade? Vamos fazer uma comparação entre a UERN e universidade estadual da Paraíba, não apenas porque está na moda comparar os dois estados, mas também porque até pouco tempo eram economicamente bem parecidos. Pois bem, o governo da Paraíba investiu R$ 307,5 milhões na sua universidade estadual, a UEPB, ou seja, R$ 44,5 milhões a mais.
Esses dados estão disponíveis ao público no portal da transparência de ambas as universidades. Um assessor menos preguiçoso teria encontrado facilmente esses números.
- Quanto é o salário do professor da UERN?
O mesmo deputado novamente expõe sua assessoria quando diz em outra entrevista que o salário de um professor da UERN é 15, 18, 20 mil reais e nas federais é R$ 6, 8, 10 ou 12 mil. Pela quantidade de valores, vê-se quanta certeza ele tem sobre o que fala.
O salário médio de um professor da UERN é cerca de R$ 9 mil, perfeitamente compatível com o salário médio pagos pelas universidade federais sendo que estes, inclusive, são levemente superior. Em 2016, o governo do RN pagou R$ 241 milhões de reais em salários na UERN. O governo da Paraíba pagou R$ 260 milhões na folha de pagamento da UEPB e atenção, a folha da UERN também paga seus aposentados, a da UEPB, não. Uma dica elementar para a assessoria do deputado é olhar os recentes editais de concurso na UERN e nas federais.
- Na UERN tem estudantes de outros estados.
Outro deputado se queixou de que na UERN há vários estudantes de outros estados. Ele não sabia dizer quantos, mas pareceu achar isso um absurdo.
Atualmente, cerca de 15% dos estudantes da UERN são de outros estados. Ora, os potiguares também estudam em universidades da Paraíba, Ceará, Pernambuco, além de outros. Em se tratando de universidades, isso é um fato natural, até porque os cursos oferecidos variam muito de uma instituição para outra. O RN não é uma ilha e como qualquer outro estado da federação, ele importa e exporta estudantes universitários o tempo todo.
Há inclusive universidades em cidades de fronteira, como a Unipampa, no Rio Grande do Sul, que recebe centenas de estrangeiros (uruguaios) todo ano.
O fato de a UERN ser procurada por estudantes de outros estados atesta que seus cursos têm qualidade. De fato, em 2015, ano em que a UERN adotou o ENEM-SISU, mais 61 mil inscritos disputaram uma vaga nos seus cursos.
- O que a UERN faz.
O deputado também afirmou que não “sabia direito o que a universidade faz”.
Primeiro é necessário dizer que além do campus de Natal (Zona Norte), a UERN desenvolve suas atividades nos campi de Mossoró, Pau dos Ferros, Patu, Caicó e Assu. Tem núcleos avançados em São Miguel, Alexandria, Umarizal, Caraúbas, Apodi, Areia Branca, Macau, João Câmara, Touros, Santa Cruz e Nova Cruz. E o que ela faz nesses locais?
– Ela forma pessoas.
A UERN faz o seu papel enquanto universidade e faz bem feito. Ela tem sob sua responsabilidade a formação de mais de 11.485 estudantes de graduação e 1.167 estudantes de pós-graduação. Para isso, abre anualmente mais de 2.000 mil vagas aos potiguares nos seus 69 cursos de graduação presenciais, três cursos de graduação a distância, 20 cursos de mestrados acadêmicos e 2 cursos de doutorado. Esses cursos estão em sua quase totalidade no interior do estado potiguar e cerca de 70% da sua clientela provém de famílias de baixa renda.
A UERN formou quase 100% dos professores da Rede Básica de Ensino que atuam na região oeste do estado. Além disso, forma enfermeiros, economistas, cientista da computação, advogados, médicos e diversos outros profissionais que passam a atuar nas cidades em que se formam ou no seu entorno. Ela já formou mais de 40 mil profissionais no interior do estado e isso representa não apenas melhoria dos serviços das cidades do RN, mas também e principalmente a inclusão social dessas pessoas.
– Ela atua nas comunidades.
A UERN atua diretamente junto às comunidades executando mais de 170 projetos de extensão. Esses projetos capacitam e promovem a melhorias na produção, serviços e na vida das pessoas, no campo e nas cidades. Além da prática jurídica, que presta assessoria a dezenas de cidadãos diariamente, a universidade mantém clínicas e ambulatórios odontológicos, que atendem centenas de pessoas de baixa renda. O projetos de extensão nas escolas incentivam a leitura e promovem a cultura. Além disso, são oferecidos diversos cursos para a população, somente na Zona Norte de Natal, são mais de mil pessoas participando de atividades realizadas no seu Complexo Cultural.
– Ela capacita e faz pesquisas científicas.
A UERN promove pesquisas voltadas para a solução dos problemas do estado. Só em 2016 seus programas de pós-graduação matricularam mais de 600 estudantes de mestrado e doutorado. Nesse mesmo ano, seus pesquisadores publicaram 342 artigos científicos, 362 capítulos de livros e registraram 23 patentes como resultados de suas pesquisas. Esses pesquisadores analisaram e apresentaram soluções para os mais variados problemas. Um outro dado relevante desses programas, é que em 2016, seus estudantes receberam do governo federal cerca de R$ 3,4 milhões de reais em bolsas, recursos esses injetando das cidades do interior do estado.
- O estado do RN precisa fortalecer a UERN
Por fim, alguns deputados precisam entender que o debate sobre uma universidade não se limita a uma simples questão contábil. Ao andar pelo interior do estado, em particular na região oeste potiguar, os deputados podem perguntar às pessoas onde elas se formaram. Ao encontra uma das mais de 40 mil pessoas formadas pela UERN, pergunte o que elas pensam da universidade que a formou.
Perguntem o que a UERN representou na vida delas e de suas famílias. Perguntem ao médico nascido e radicado na cidade do interior o que lhe possibilitou o diploma. Perguntem ao professor onde ele teve a sua licenciatura. Pergunte ao comunicador social que fala nas rádios, na TV ou escreve nos jornais como surgiu sua oportunidade para se capacitar.
Perguntem aos prefeitos e empresários das cidades onde se formou a mão de obra especializada que consultam e contratam. Ou simplesmente perguntem a um colega, deputado na Assembleia Legislativa do RN, sim porque lá também tem estudante da UERN, o que pensa da universidade.
Enfim, pergunte, informe-se e, se a sua motivação for de fato um futuro melhor para o nosso estado, irá sem dúvida reconhecer que no estado precisa fortalecer a UERN.
(Foto: Reprodução)